Entrevista – Revista Ultimate Beauty

«Trabalhei com as pessoas certas e nos locais certos, o que foi muito importante na consolidação da minha carreira profissional.»

Por Madalena Alçada Baptista

SEMPRE QUIS SER CIRURGIÃO E PODER OPERAR, MAS ACABOU POR SEGUIR CIRURGIA PLÁSTICA por causa de inúmeras variantes, entre elas, o facto «da Cirurgia Plástica não ter uma área de actuação definida: faz coisas na cabeça e faz coisas nos pés. Tem uma panóplia de técnicas muito grande, todas completamente diferentes umas das outras e não há uma maneira certa de fazer as coisas. Há umas que são necessariamente erradas mas não há uma mais certa». Como a Cirurgia Plástica era uma área pouco explorada em Portugal decidiu, no quinto ano do curso, rumar ao Reino Unido, em direcção ao Canniesburn Hospital, um centro de referência mundial nesta área. «Tive muita sorte e acabei por !car lá a trabalhar durante um ano e tal».

Foi para a Escócia sozinho e quase sem dinheiro nenhum. «Fiquei na pior zona possível de Glasgow e comia uma comida duvidosa, mas foi uma situação que me deu muita experiência. Pensei que quando conseguisse juntar algum dinheiro, agradecia muito a oportunidade e voltava para casa». Mas, dois meses depois de lá estar, perguntaram-lhe se queria !car com o lugar de um médico que tinha saído. «Um bocado a medo, aceitei. De repente, comecei a ganhar bastante bem e, então, mudei-me da pior zona de Glasgow para a melhor e comecei a ter uma vida muito mais agradável». Considera a experiência que teve neste hospital muito boa, ficou amigo de muita gente e às vezes ainda lá vai operar. «Devo muito aquela gente e sou-lhes agradecido».

Em Portugal, teve a oportunidade de ter como tutor António Gomes da Silva, no Hospital de São José, e de ter trabalhado – depois de terminar a especialidade – com Francisco Ibérico Nogueira, pessoas que considera muito importantes na consolidação da sua carreira. «Tive sempre muita sorte. Trabalhei com pessoas que me ajudaram e que foram um marco na minha vida em termos pessoais e profissionais. Sempre fui bafejado pela sorte no que diz respeito às pessoas com quem me cruzei, todas elas cirurgiões fantásticos».

POR QUE SE ESPECIALIZOU EM CIRURGIA PLÁSTICA?

«Quando escolhi Medicina sabia que queria cirurgia. Depois de fazer o internato acabei por optar por Cirurgia Plástica». A escolha, na altura, foi uma espécie de “tiro no escuro”, por «ter de optar entre coisas completamente diferentes». Hoje, reconhece ter escolhido bem: «em Cirurgia Plástica, não há uma forma certa de fazer estas coisas, e isso é uma coisa muito engraçada e apelativa.»

O QUE MAIS GOSTA NO SEU TRABALHO?

«É um trabalho que faz bem às pessoas, que as torna felizes. Umas por se curarem de doenças e outras por mudarem algum aspecto do seu corpo.»

O QUE MAIS O ATRAI NO CORPO HUMANO?

«A harmonia, a função e a beleza.»

JÁ SE SUBMETEU A ALGUMA CIRURGIA PLÁSTICA?

«Já fiz uma mini-lipoaspiração. Foi uma coisa pequena, portanto, tranquila.»

JÁ OPEROU ALGUÉM DA SUA FAMÍLIA?

«Já e foi uma experiência que correu bem. Não indicaria um colega para o fazer, isto porque se a pessoa me procurou para fazer a cirurgia, é porque é a mim que quer e não que a encaminhe para outro especialista. É porque tem uma relação de confiança comigo.»

JÁ ALGUM PACIENTE O COMOVEU DE FORMA ESPECIAL?

«Vários. Já operei uma doente com um tumor considerado não operável por vários hospitais do País que, cinco anos depois da cirurgia, se encontra bem. Também já vivi o reverso da medalha: um doente com um tumor que me ultrapassou largamente e que morreu de uma forma agonizante. Talvez os doentes com mais impacto na minha vida sejam os casos oncológicos que não consegui tratar. É uma sensação de impotência muito grande não se conseguir “caçar” um tumor a tempo e horas.»

QUAL FOI O MOMENTO MAIS IMPORTANTE DA SUA CARREIRA?

«Há vários momentos decisivos: ter entrado para Medicina e a escolha da Especialidade, ter saído da função pública, ter trabalhado na Escócia, ter tido como tutor o António Gomes da Silva e ter trabalhado com o Ibérico Nogueira.»

QUAL O HÁBITO DE VIDA QUE CONSIDERA MAIS SAUDÁVEL?

«Sempre fiz, gosto muito e preciso de desporto. Acho que é um hábito muito saudável para o corpo e para a mente.»

O QUE FAZ NOS TEMPOS LIVRES?

«Uma das coisas mais importantes que faço é passar tempo com a minha filha. Também faço desporto: esqui, surf, ginásio. Gosto muito de viajar e como sou “doente” por esqui, vou muitas vezes à neve.»

O QUE SERIA SE NÃO FOSSE CIRURGIÃO PLÁSTICO?

«Se não tivesse ido para Medicina, gostava de ter feito Arquitectura; e se não tivesse escolhido Cirurgia Plástica, acho que tinha escolhido Neurocirurgia.»

QUAL O AVANÇO POR QUE MAIS ANSEIA?

«Acho que a cirurgia vai desenvolver-se e crescer bastante com o avanço das ciências básicas em medicina, ou seja, da genética, da tecnologia molecular, da bioquímica, da biofísica, etc.»