Entrevista – Revista Chick 2006

CHICK: Em que faixa etária as mulheres portuguesas procuram mais a cirurgia estética?

João Anacleto: Hoje em dia, as soluções oferecidas pela cirurgia estética são procuradas desde adolescentes ate mulheres na faixa dos 70 e mais anos; contudo, a faixa etária onde há uma maior incidência de intervenções, na minha prática clínica, situa-se entre os
25 e os 55 anos.

Cada “problema” tem um tempo para ser tratado, não obedecendo somente a questões físicas como também psíquicas; por exemplo, se uma criança de 5-6 anos tem as orelhas descoladas e, por essa razão, é ou vai ser alvo de chacota na escola, encontra-se na altura ideal para ser operada. Se for operada mais tarde poderá ficar com o “estigma do orelhudo”, não devendo contudo sê-lo mais cedo uma vez que as orelhas ainda estão a desenvolver-se.

Algo de similar acontece com os seios; a cirurgia estética, como cirurgia de conforto, tem sempre de ser avaliada em termos de custo-benefício, avaliando o que se ganha e o que se perde – as mulheres têm de ser bem informadas à cerca dos riscos e benefícios, sobre o que e provável que obtenham através da cirurgia e o que não vão conseguir. Imaginemos uma rapariga com 15 anos, em que os seus seios não param de crescer: são pouco “cómodos” para ela, causando-lhe mal-estar psicológico, não consegue lidar com os seus amigos, não consegue relacionar-se com “os rapazes”, e na praia, não “tira a t-shirt”. Neste caso, penso valer apena ser submetida a uma intervenção cirúrgica- mamoplastia de redução – de forma a que a sua hipertrofia e ptose maária não venha a ter reflexos traumatizantes na sua adolescência; ao contrário, se a rapariga lidar bem com essa sua característica física, não tem qualquer necessidade de ser operada. É assim, por vezes, importante o apoio de um psiquiatra/psicólogo, no sentido de avaliar o “grau de importância” que tem para um determinado paciente uma intervenção especifica.

CK: Pela sua experiência, qual é o principal objetivo que as portuguesas procuram alcançar?

J.A: A Cirurgia Plástica mostra-se cada vez mais “democratizada” à qual um crescente número de homens e mulheres recorre. Acontece que quase todas as mulheres manifestam sentir-se insatisfeitas com um ou outro aspecto dos seus seios. Contudo,
há que ter consciência de que a cirurgia plástica, apesar de poder proporcionar melhorias estéticas significativas, não faz milagres. A mulher portuguesa tem, como característica morfológica, seios grandes, e a impressão geral é que as novas gerações têm seios menores que as suas mães (tal como hoje em dia os filhos são mais altos do que os pais). De modo geral, as mulheres também amamentam menos e, inclusive, a maternidade quando acontece é mais tardia fazendo com que tenhamos uma população mais madura com seios maiores e uma população mais jovem com seios menores. Como consequência, o que nos é pedido (aos cirurgiões plásticos) varia em direcções opostas em função da faixa etária. O que a maioria das mulheres procura é um perfil mamário
projectado, de forma e volume adequado, mas sem perder um aspecto natural; eu em particular tento recriar uma harmonia na morfologia da mulher, nunca alterá-la. A colocação de próteses de silicone nos seios é provavelmente uma “moda”, pois o sexo feminino apercebeu-se que esta é uma cirurgia simples, com uma recuperação fácil e imediata, com resultados de longa duração e com um preço relativamente acessível. No que toca às mamoplastias de aumento com prótese de silicone normalmente, não coloco mais do que uma copa B (volume aplicado de 215 a 285 cc – variando consoante a mama pré-existente); algumas mulheres poderão querer um volume mamário maior, mas de modo geral este só será recomendável se se verificarem um conjunto de características individuais que preconizem a manutenção dos resultados estéticos a longo prazo – pois os efeitos da gravidade não se compadecem com os resultados imediatos da cirurgia.

CK: Que referências esteticas têm as mulheres portuguesas?

J.A: O padrão é muito diversificado, da Cindy Crawford, mais antiga, à Gisele Bundchen mais actual, até às celebridades nacionais. O estilo é o da mulher magra, mas que veste um soutien 34/36 B, que tem um ar saudável e o corpo muito cuidado. Neste momento, e felizmente, o modelo de mulher anoréctica passou definitivamente. As modelos tendem a ser magras, mas não esqueléticas. O padrão de seios que vai prevalecer em termos de moda será seguramente uma mama com um ar cada vez mais natural.

CK: Quais são as ideias preconcebidas a nivel de implantes de silicone?

J.A: São muitas as mulheres que têm ideia que os implantes de silicone podem ser nocivos para a saúde; acham que as cicatrizes desaparecem e pensam que, depois da cirurgia, deixam de precisar de usar soutien – todas elas são falsas, à luz da ciência contemporânea. Neste último aspecto, talvez devido a factores psicológicos, as mulheres usam frequentemente soutiens antes da operação porque tinham os seios caídos ou lhes pareciam pouco estéticos, porém depois de “refeitas”, sentem-se mais seguras e pensam que já não os necessitam. Eu aconselho usar um soutien específico para o pós-operatório, fundamental na recuperação imediata.

A importância do papel do Cirurgião Plástico esbate-se a partir do momento em que a rotina pós-cirúrgica se encontra concluída, cabendo depois à mulher saber cuidar-se: hidratar a pele, usar soutiens bem adaptados ao volume de peito adquirido e manter um estilo de vida saudável.

CK: Que característica deve ter o soutien pós-operatório?

J.A: Tem de ser um soutien bem adaptado à forma e volume da mama, que fique bem ajustado, sendo importante que nesse período ajude a “conter” a prótese no local correcto; não deve ainda exercer pressão sobre a cicatriz cirúrgica. A maioria dos soutiens pós-operatórios tem a desvantagem de serem dispendiosos e de só servirem para aquela ocasião. Por isso, a maioria das mulheres opta pelos soutiens de desporto, regra geral, muito contortáveis e que cumprem a função pretendida.

Revista Chick – 2006